Pessoal, o texto a seguir é da nossa colega de grupo Jurema. Vamos ler e ver como essa história nos inspira?
"O ano era 1962.Eu,6 anos, entrava para o pré-primário em uma das escolas mais tradicionais de Campinas:o Instituto de Educação Carlos Gomes.Mal sabia que era o começo de minha futura carreira:professora de Português.
Lá havia as normalistas que,para cumprir seus estágios, planejavam aulas especiais para nós, do ensino fundamental.Olhava aquelas moças e pensava: quero ser como elas.
Aprendi tanta coisa nessa escola e a que mais me fez feliz foi aprender a ler e a escrever.Eu, de uma família humilde, trazia orgulho a todos de minha casa.Como lê bem, diziam.Essa menina promete!
Com esse incentivo, fui de vento em popa!E para completar, brincava de escolinha em casa com meus irmãos.Ajudava-os nas tarefas, lia para eles. Eu era sempre a professora, claro.
Na 2ª série aprendi o valor das histórias contadas com graça. A D. Filomena era expert nisso.Contava episódios da História do Brasil que pareciam estar acontecendo ali na minha frente. E que paciência tinha conosco. Sempre gentil, atenciosa, carinhosa, mas exigente nas lições.Não gostava de orelhas nos cadernos, rasuras, tarefas mal feitas.E naquela época ninguém se atrevia a desobedecer à mestra.
E fui pegando a cada dia mais gosto pela leitura e pela escrita. Meu tio tinha um depósito de ferro velho e ali eu me deliciava com revistas famosas da época: Cruzeiro, Sétimo-Céu(para as fotonovelas)e acreditem, as Seleções de Reader's Digest, com as histórias que para mim eram as mais lindas do mundo.Sentava-me na pilha mais alta e me sentia a senhora de meu destino. Eu podia ler e entender tudo o que se descortinava daquelas páginas...
Mas o que foi essencial para minha formação leitora foi ter visto uma apresentação de teatro com os poemas de Manuel Bandeira.Que lindas aquelas vozes declamando "Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei..."Que mundo encantado era aquele? Onde estaria Pasárgada? Eu queria ir para lá também e ser amiga do rei...Ou quem sabe alcançar a estrela tão fria e aquecê-la e lhe dizer que não ficasse mais tão longe, ela poderia ser mais feliz se permanecesse mais acessível...
E aí soube com certeza com uma vozinha vinda lá do fundo de meu coração que seria professora como D. Filomena eu contaria histórias e agora tinha mais repertório...os poemas também entrariam na lista para serem contadas... e fotonovelas, gibis,contos, romances...
Até hoje sou assim.Há muitas revistas e livros juntos a mim. Escolho-os para ficarem comigo durante todo meu dia, a me questionar, informar, encantar, seduzir,ajudar...E como no conto de Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, eu me sinto a própria menina que depois de tanto tempo querendo um livro, quando o vê em suas mãos, não quer terminar de lê-lo com medo de acabar o encanto.E prolonga esse prazer ao máximo. Eu também me sinto assim.A menina que um dia fui está sempre voltando para me trazer a felicidade que descobri ao aprender a ler e a escrever."
Janaina, parabéns seu blog e seu depoimento são maravilhosos.
ResponderExcluirAbraços