Que tal falar de nossas memórias sobre os processos de leitura e escrita? De que forma isso surgiu em nossas vidas? Quem foram os principais responsáveis? Nos apaixonamos logo de cara ou foi preciso que alguém despertasse isso em nossos corações?
Como já puderam notar, nosso blog que muitas dúvidas que, aos poucos, serão respondidas.
Janaína, adorei seu blog. Está muito bonito. Gostaria de saber se posso colocar meu relato de experiência em leitura junto ao seu.
ResponderExcluirEu também tenho uma história parecida com a sua quanto a um concurso de redação. O meu foi em 1970. Dia da ave.Ganhei um certificado com a assinatura do Pelé, do governador Abreu Sodré,da Primeira Dama Scylla Médici e outros mais.Fiquei muito orgulhosa.
Jurema, que bacana, um concurso de redação pode mudar os rumos da vida!
ResponderExcluirEstou esperando sua postagem aqui!
O ano era 1962.Eu,6 anos, entrava para o pré-primário em uma das escolas mais tradicionais de Campinas:o Instituto de Educação Carlos Gomes.Mal sabia que era o começo de minha futura carreira:professora de Português.
ResponderExcluirLá havia as normalistas que,para cumprir seus estágios, planejavam aulas especiais para nós, do ensino fundamental.Olhava aquelas moças e pensava: quero ser como elas.
Aprendi tanta coisa nessa escola e a que mais me fez feliz foi aprender a ler e a escrever.Eu, de uma família humilde, trazia orgulho a todos de minha casa.Como lê bem, diziam.Essa menina promete!
Com esse incentivo, fui de vento em popa!E para completar, brincava de escolinha em casa com meus irmãos.Ajudava-os nas tarefas, lia para eles. Eu era sempre a professora, claro.
Na 2ª série aprendi o valor das histórias contadas com graça. A D. Filomena era expert nisso.Contava episódios da História do Brasil que pareciam estar acontecendo ali na minha frente. E que paciência tinha conosco. Sempre gentil, atenciosa, carinhosa, mas exigente nas lições.Não gostava de orelhas nos cadernos, rasuras, tarefas mal feitas.E naquela época ninguém se atrevia a desobedecer à mestra.
E fui pegando a cada dia mais gosto pela leitura e pela escrita. Meu tio tinha um depósito de ferro velho e ali eu me deliciava com revistas famosas da época: Cruzeiro, Sétimo-Céu(para as fotonovelas)e acreditem, as Seleções de Reader's Digest, com as histórias que para mim eram as mais lindas do mundo.Sentava-me na pilha mais alta e me sentia a senhora de meu destino. Eu podia ler e entender tudo o que se descortinava daquelas páginas...
Mas o que foi essencial para minha formação leitora foi ter visto uma apresentação de teatro com os poemas de Manuel Bandeira.Que lindas aquelas vozes declamando "Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei..."Que mundo encantado era aquele? Onde estaria Pasárgada? Eu queria ir para lá também e ser amiga do rei...Ou quem sabe alcançar a estrela tão fria e aquecê-la e lhe dizer que não ficasse mais tão longe, ela poderia ser mais feliz se permanecesse mais acessível...
E aí soube com certeza com uma vozinha vinda lá do fundo de meu coração que seria professora como D. Filomena eu contaria histórias e agora tinha mais repertório...os poemas também entrariam na lista para serem contadas... e fotonovelas, gibis,contos, romances...
Até hoje sou assim.Há muitas revistas e livros juntos a mim. Escolho-os para ficarem comigo durante todo meu dia, a me questionar, informar, encantar, seduzir,ajudar...E como no conto de Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, eu me sinto a própria menina que depois de tanto tempo querendo um livro, quando o vê em suas mãos, não quer terminar de lê-lo com medo de acabar o encanto.E prolonga esse prazer ao máximo. Eu também me sinto assim.A menina que um dia fui está sempre voltando para me trazer a felicidade que descobri ao aprender a ler e a escrever.